A FOSSA DE 800 BEBÊS: O QUE ACONTECIA NO CONVENTO DO BOM SOCORRO?
Na Europa do século XX, um em cada sete bebês nascidos vivos morria de tuberculose, pneumonia, difteria, sarampo ou tosse convulsa. Apenas em 1901, aproximadamente 127 mil bebês e 81 mil crianças de 1 a 14 anos morreram, o que definiu a maior taxa de mortalidade do mundo naquele tempo.
As chances de sobrevivência de um recém-nascido ou de uma criança eram cinco vezes menores quando se tratava de um panorama familiar em que o pai não era presente e abandonava a esposa e os filhos. Na época, “mãe solteira” era um estado civil altamente rejeitado tanto pela sociedade europeia quanto pelo Estado, que ainda usava a palavra “vergonha” (um termo cunhado na época vitoriana) para se referir aos bebês que tecnicamente não tinham pai.
Envergonhadas, excluídas e sem meios adequados de subsistência, muitas mulheres eram forçadas a se encarcerarem em instituições psiquiátricas ou conventos, pois eram os únicos lugares onde eram aceitas com os filhos. No entanto, enganava-se quem achava que elas teriam paz e seriam confortadas em conventos ou qualquer centro de acolhimento administrado por instituições religiosas. O verdadeiro inferno era lá dentro.
As freiras do Bom Socorro
Abrigos para mães solteiras montados e geridos por igrejas católicas eram muito comuns na Irlanda do século XX, sobretudo por se tratar de um país muito religioso. Em 1925, a ordem religiosa das irmãs do Bom Socorro, liderada pela madre Hortense McNamara, tomou um antigo edifício da cidade de Tuam, em County Galway, e fundou o Bon Secours Mother and Baby Home (Lar de Mães e Bebês do Bom Socorro). A influência das freiras católicas romanas era tão grande naquela época que elas também administravam o Hospital Grove da cidade.
O edifício havia sido projetado pelo arquiteto George Wilkinson em 1841 para servir como uma casa de trabalho que funcionava sob as Leis dos Pobres Irlandeses, um sistema de ajuda social que teve início no período Tudor e se estendeu até o fim da Segunda Guerra Mundial. Dividido entre prédio principal, dormitórios e enfermaria, o local foi reforçado com galpões para abrigar presos e vítimas da febre.
Com o fim da Grande Fome de 1845, o asilo abrigou por mais de 60 anos pobres e desabrigados antes de ser ocupado pelas tropas britânicas em 1916 e transformado em um quartel, sendo assumido pelas freiras logo em seguida.